A história da personagem Nell contada no filme retrata a realidade de uma jovem que, tendo sida criada num pequeno casebre dentro da floresta e afastada do convívio social, tinha sua mãe como seu único contato humano, e, portanto, seu único contato com a linguagem humana. Assim, a personagem desenvolveu uma linguagem própria que, a princípio, não era compreendida pelas demais pessoas que se aproximavam dela.

O processo cognitivo internalizado por Nell ao longo da vida deu-se quase que unicamente pela convivência com sua mãe, a qual possuía um tipo de paralisia facial, o que lhe dificultava a fala. Assim, Nell aprendeu a se comunicar utilizando uma derivação do inglês, porém, com algumas novas expressões, com a supressão de muitas consoantes e num tipo de linguagem que também utilizava o gestual, com movimentos que lembrava alguém com dificuldades na fala.
O filme vem corroborar com os estudos lingüísticos que afirmam que a nossa compreensão está ligada a esquemas cognitivos internalizados e que tais processos não se dão de forma individual, e sim, através de representações coletivas, como afirmava Vygotsky.
Percebe-se no filme que Nell apresentava um tipo de linguagem conforme ela vivenciou na sua interação social, que nesse caso, restringia-se ao contato com a mãe portadora de uma dificuldade na fala; e quando criança, com sua irmã gêmea – que veio a falecer, ficando Nell exposta apenas ao contato humano materno, já que sua mãe a privava do convívio social. Desse modo, é visível no filme a abordagem sociointerativa da cognição, em oposição à velha noção de conhecimento como atividade individual.
Nell não tinha problemas de competência, como sugeririam alguns estudiosos, e na história narrada no filme, havia os que acreditavam nessa hipótese, tanto que queriam provar que ela não era capaz de viver sozinha. Mas Nell compreendia a realidade em que vivia - o seu pequeno mundo. Ela não tinha problemas de competência, e nem mesmo de desempenho, ela apenas expressava-se conforme a sua cognição sociointerativa. Seu processo de socialização em compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas só foi possível a partir da morte da sua mãe, o que levou o médico Lovell e a psicóloga Paula a perceberem que precisavam penetrar no “mundo da Nell” para entenderem seus processos de compreensão. Eles tiveram que observá-la; participar do dia-a-dia de Nell, para assim, irem, aos poucos compreendendo o que fazia sentido para ela, quais conhecimentos prévios ela possuía.
Através dessa investigação foi que eles descobriram que Nell também se utilizava de trechos bíblicos para descrever situações do seu dia-a-dia e fatos que ela queria comunicar. E ainda, descobriram também que muitas das expressões corporais de Nell eram oriundas das lembranças que ela tinha da sua irmã gêmea e dos momentos em que elas, ainda crianças, brincavam e faziam tudo o mais juntas.
A forma como Nell mobilizou seus conhecimentos prévios e os esquemas cognitivos para construir sentidos à sua nova vida deu-se por meio do auxílio importantíssimo do Dr.Lovell. Inicialmente, ele entendeu que precisava aprender a linguagem dela, e com o passar dos dias passou a proporcionar a ela novas situações de interação social, novas formas de comunicação. Assim, Nell foi acessando seus esquemas cognitivos e relacionando-os com os novos conhecimentos lingüísticos e sociais que agora vivenciava. Isso resultou numa nova interação social que ela agora precisava experimentar, e consequentemente na ampliação do seu vocabulário.
(Trabalho apresentado para obtenção de nota na disciplina "Prática em leitura e produção de texto", ministrada pela profa. ms. Zélia Xavier, no curso de Letras da Universidade Potiguar. 2010 - 2° semestre)